Wednesday, May 31, 2006

Residência unifamiliar em Juiz de Fora, MG











Casa,cuja obra ainda está em fase de acabamentos, foi projetada para abrigar a família Guilherme Sá Freire de Werneck, em Juiz de Fora. Apresento as fotos das fachadas principal e um ângulo da fachada dos fundo que é a que realmente tem a melhor vista. O prédio debruça-se sôbre o vale para que seus habitantes desfrutem de ampla e bela visão da paisagem predominante.

Thursday, May 25, 2006

Jardim de infância

Após um dia estafante e complicado no escritório, Renato chega em casa toma uma ducha relaxante, janta frugalmente, deita-se e mergulha em profundo sono.
Acorda sobressaltado às duas da manhã com o barulho da queda de um quadro ao chão, derrubado pelo vento. Salta da cama assustado e vê que a garrafa d’água arrastada pelo quadro espatifara-se derramando o precioso líquido e conseqüentemente molhando o piso. Tonto de sono põe-se a recolher os cacos e a enxugar o chão. A agitação tira-lhe o sono. Rolando na cama tenta, inutilmente, voltar a dormir. A mente então voa, passeia pelo tempo, aterrissa no ano de 1948 e relembra como se estivesse revivendo tudo.
Chega ao jardim de infância, precisamente na Escola Municipal Marechal Hermes, pela mão de Dona Flora, sua mãe. Veste um avental branco, como sobretudo, com seu nome bordado em azul, cor representativa do grau escolar, no lado esquerdo do peito. A tiracolo carrega uma pequena sacola de algodão, também branca e com o nome bordado. Nela carrega o lanche preparado em casa carinhosamente por Dona Flora.
É um belo prédio de arquitetura planejada e apropriada para a atividade escolar dotado de amplas salas de pé direito elevado com portas e janelas de madeira e panos de vidro, bisotados, grande pátio coberto com rampa de acesso para a área externa ajardinada, com árvores e um jambeiro de onde, por vezes, é extraído o fruto que serve como complemento da merenda. É um excelente espaço para brincadeiras e folguedos da criançada.
Lembra ainda da sala da diretoria muito bem arrumada, com certa pompa e muito espaçosa que, além de sua função própria, é usada para tomar remédios trazidos de casa ou para descansar, algumas vezes.
É na Marechal que conhece a primeira namorada que, como ele, deve ter uns seis anos. Chama-se Sonia, é linda, grandes olhos verdes, cabelos negros em tranças. Forte é primeira emoção, primeiro amor e por isto memorável, apesar de infantil ou talvez até por causa de.
Saudades? Não, apenas doce lembrança da infância que não volta mais.
Sente a irresistível vontade de rever o prédio, entrar nele e percorrer as salas, visitar a secretaria, o pátio e quem sabe, colher e comer um jambo de cujo sabor não se lembra mais. Recordar um tempo e reviver o espaço que habitou e lhe foi tão querido.
Faz tanto tempo...

Betofreire
24/05/2006

Tuesday, May 23, 2006

Saudades idosas...



Sentado no banco da praça, como bom malandro, à sombra da amendoeira, observo o céu intensamente azul recortado pela imponente Pedra da Gávea, ladeada pelos Dois Irmãos e, mais à frente, espelhando-os, a bela Rodrigo de Freitas circundada, em suas margens, por australianas casuarinas. À minha frente, no meio da praça, brincam, entre gostosos risos e expressões de despreocupada alegria, crianças como que a me ensinar que a vida é bela e, como tal, deve ser intensamente vivida, despreocupadamente e sem estresse.
Do alto (ou de baixo?) das minhas seis décadas admiro-as, mas, de repente, o pensamento alça vôo, como aquela gaivota que paira ao sabor do vento e viaja com asas do devaneio para o não sei onde do tempo.
Vejo-me, com filhos ainda pequenos, acompanhando-os e misturando-me aos folguedos pelas praças e praias da vida. Bate uma saudade imensa, nunca sentida, nó na garganta, vontade de chorar. É difícil segurar a emoção.
Aquelas lindas figurinhas cabiam-me no colo e abraçávamo-nos com eterno e terno carinho. Como era bom sabê-los tão perto!
Cresceram muito rápido, parece-me, e a sensação é de que não curti o suficiente a sua criancice e meninice. Agora, na adolescência de um e juventude do outro me resta o consolo da saudade do grande abraço, às vezes apressado e do beijo não dado, pois, em nossa sociedade machista pais de filhos já crescidos, ao menos por um período, não se podem dar ao prazer de afetos e ternuras.
Chega-me a sensação de emoção constante e que qualquer ato bonito, música, sorriso de criança ou figura idosa ( tão ou mais que eu) me tocam fundo a alma.
Ouvir Cartola, Vinícius, Paulinho Nogueira mexem muito com a emoção. Talvez não fosse exagero dizer como Zeca Balero que “ando tão à flor da pele que me comove até beijo de novela”.
Ver a Lagoa, os Dois Irmãos, a Pedra da Gávea e crianças ao por do sol emociona muito.
Dá uma grande e idosa saudade.

Manhã de domingo






Consumirei a emoção antes que, inexoravelmente, ela me consuma.
Consumirei a ausência e, antes que ela me consuma, transforma-la-ei em presença.
Liberarei, a partir de agora, todo o sentir contido neste peito de artista que sente a vida e as pessoas palpitarem em volta.
Sinto a moça bonita na varanda do edifício em frente. Ela alisa seus cabelos mansamente soltos. Em que estará pensando? Talvez na praia que não foi.
Sinto-me escrevendo e estranho. Vejo a mediocridade em meu desenho e me espanta o fato de escrever ou de, ao menos, tentar fazê-lo.
Será isto fuga ou busca de uma forma de expressar-me?
Talvez seja a necessidade de transbordar o que me vai por dentro. Quanta coisa já foi escrita e jogada fora; quanto já foi dito e ainda há por dizer.
É domingo.
É domingo sem sol, sem praia.
É domingo sem belos corpos ao sol, sem a moça passante de tanga e de graça.
É domingo sem beijos de amantes banhados de sol e sal.
É domingo sem sol, sem graça, é simplesmente... Domingo.

Carlos Alberto
15/06/80

Friday, May 19, 2006

Zeca


Acrílico sobre eucatex de minha autoria.
É o Zeca da Cuíca.
A cuíca do Zeca ou
Zeca da cuíca?
Zeca e a cuíca ou
A cuíca e o Zeca?
Os dois são um.
Só som, Só melodia.
Só poesia.

Thursday, May 18, 2006

Um Senhor Zeca

Hoje ouvi o Zeca. Não um Zeca qualquer, mas o Senhor Zeca.
Zeca que extrai do instrumento simples a beleza mais pura de um choro sentido, doido, uma lágrima sonora. Zeca que acompanhando um chorinho de Pixinguinha consegue transcender a sonoridade esperada da cuíca em suspiros harmônicos a um só tempo suaves e firmes.
Ouvi o Zeca, a cuíca do Zeca, o Zeca da cuíca. A integração homem-instrumento é perfeita. Zeca e cuíca vibram na mesma intensidade, com a mesma freqüência que nos é impossível distinguir onde está o Zeca, onde fica a cuíca. Ambos, Zeca e cuíca, se fundem num ser vivo, dotado de extrema sensibilidade, harmonia, ritmo, pura sonoridade.
Sua figura negra, esguia e seu sorriso lembram-me a nobreza em toda a extensão da simplicidade que apenas os mais nobres possuem.
É uma bela imagem negra de chapéu preto, conjunto jeans, tamancos pretos e a divina cuíca a tiracolo. Zeca é música, ritmo que paira e nos envolve com beleza, paz, ternura. Zeca da cuíca ou a cuíca do Zeca toca-nos o fundo da alma e transporta-nos ao espaço além da dimensão cotidiana. Leva-nos ao infinito. Transporta-nos aos mais belos recantos do não sei onde da imaginação.
Viva Zeca, o da cuíca, deus negro da música, do ritmo, da harmonia.
Saúdo-te e me rendo à tua arte, bom Zeca da cuíca.


Betofreire
Rio, 14/06/80

Lembrança de Natal

O micro está ligado, o Word aberto mostra uma página limpa, branca e fria, a espera de que algum pensamento se derrame sobre ela interrompendo-lhe a mudez.
Casualmente ou não, o agente capaz de fazê-lo sou eu, que estou aqui. Entretanto, sua frieza me impressiona, incomoda. Idéias giram como louco redemoinho em minha mente, mas sinto que devo quebrar este gelo.
É preciso tecer idéias, bordá-las no virtual papel antes que me fujam de vez.
Falar de amor, de saudade, ou simplesmente de amenidades, talvez seja o mais apropriado para este dia seguinte ao Natal, data tão importante quanto carregada de emoções.
Há muitos Natais atrás, quando na minha inocência infantil, ainda acreditava em Papai Noel, desejei muito ganhar um carrinho de plástico colorido que era cópia fiel de uma Nash do ano. Formulei então meu pedido ao bom e barbudo velhinho através de uma tímida carta entregue a tia Pequenina que se encarregaria de enviá-la ao bondoso Noel.
Naquela época as reuniões Natalinas aconteciam na casa dela que era casada com tio Flávio, irmão de mamãe. Curiosamente até hoje não lhe sei o nome, pois era conhecida apenas pelo apelido. Estranheza maior se dava ao fato de seu apelido não corresponder a sua figura que era a de uma mulher de estatura acima da média para a época.
Era uma congregação familiar regada de muito amor e os donos da casa cuidavam para que tudo saísse a contento, desde os enfeites apropriados até os quitutes, preparados com esmero culinário, fechando com a escolha dos presentes carinhosamente embalados.
Papai, mamãe, vovó, meus irmãos Marilena, Geraldo e Ricardo íamos sempre com muita alegria a esses encontros. Lá encontrávamos os primos Paulo e Joel, filhos de Tia Jair e tio Raul, irmãos respectivamente de mamãe e papai; Gilda e Regina, filhas dos tios donos da casa.Eram confraternizações plenas de alegria.
Um pouco antes da meia noite saíamos todos, adultos e crianças, para a Missa do Galo, pois, segundo tia Pequenina, enquanto assistíamos a missa, Papai Noel deixaria os presentes na árvore que era sempre ornamentada com primoroso bom gosto.
Era bem pertinho. Íamos a pé até a igreja de São Paulo Apóstolo onde a missa, muito solene, era celebrada pelo padre Colombo, amigo de tio Flávio.
Terminada a missa retornávamos e corríamos para perto da árvore à espera de que tia Pequenina, como sempre o fazia, distribuísse os presentes. Minha ansiedade foi maior naquele ano porque nunca quis tanto um presente como desejei aquele carrinho.
Ao ouvir meu nome, pulei emocionado para pegar e abrir o embrulho que pela forma e dimensões, quase revelava o conteúdo. Ao abri-lo a alegria foi inesquecível. Era o carrinho tão desejado. Não o larguei de mão por um instante sequer. Após a entrega dos presentes veio a ceia e as deliciosas sobremesas foram deglutidas com enorme prazer infantil. Lembro-me, em especial da torta de nozes, especialidade de tia Jair sempre elogiada por tio Raul que dizia: -- “Tenho comido tortas, mas nenhuma como esta”, acompanhado do riso de todos. Primos brincavam e deliciavam-se com carrinhos, bolas, bonecas e jogos durante todo o tempo que o sono e o cansaço, decorrentes de tanta agitação, o permitissem. Finalmente, vencidos pela sedução de Morfeu, atirávamo-nos exaustos nos seus braços. Eu e meus irmãos, exceto minha irmã, pouco mais velha que nós (que ela não me ouça), já dormíamos quando íamos para casa no bom e velho bonde que, com seu balançar e cadenciado gemido – ganã, ganã, ganã... mais nos embalava e nos conduzia de Copacabana para Botafogo, onde morávamos.
Dia seguinte acordei e, antes de qualquer coisa ou café, fui procurar o tão querido carrinho, mas, ó infortúnio, descobri que o havia deixado cair no bonde, enquanto dormia.
Tristeza das tristezas, enorme desdita, como chorei minha primeira perda. Deixei escapar o tão esperado presente!
Amarguei a perda por quase uma semana, até que por força de minha fé infantil e das orações ao bondoso Jesus Menino, juntamente com minha avó, consegui “reaver” o precioso presente. Graças a bondade da inesquecível Pequenina.
Que Deus as tenha, vovó e tia Pequenina, a seu lado em lugar abençoado.

Betofreire

Wednesday, May 17, 2006

Para homenagear os pandeiristas brasileiros e em especial a Jorginho do pandeiro, Celcinho e Netinho, meus professores, e porque não a mim mesmo?
Jorginho é aquele que reinventou o pandeiro
É um acrílico sôbre tela de minha autoria.

brincando com cerâmica










Descobri, brincando no atelier de um amigo, o talento de escultor adormecido ao produzir esta peça de cerâmica.
É prazeroso investigar nossas possibilidades e realizar novas experiencias artísticas.

Thursday, May 11, 2006

Conto rápido

Já era tarde da noite quando soou a campainha da porta de Fernando.
Ele, que já quase adormecera, pulou da cama e cambaleante vestiu o roupão atoalhado azul marinho, dado por Teresa no Natal passado, quando ainda estavam juntos. Sacudindo a cabeça para afastar o sono e as lembranças do amor, dirigiu-se até a porta, espiou pelo olho mágico, não havia ninguém.
Revoltado, praguejando contra o mundo voltou para cama, sentou-se, olhou o despertador que marcava duas da madrugada, lembrou que teria de acordar às 5:30 h. Não conseguira dormir ainda e a imagem de Teresa voltou-lhe à mente mas derrubado pelo cansaço adormeceu.
Soa o despertador, Fernando arrisca um só olho e vê que já é hora de acordar, embora a fadiga pela noite mal dormida lhe dissesse que ficasse eternamente na cama.
Após espreguiçar-se demoradamente, levanta, vai ao banheiro, barbeia-se, toma uma ducha para espantar a preguiça, arruma-se e vai para a cozinha preparar o café. Já sentado à mesa, mal começa a beber seu leite, ouve a campainha de serviço. Levanta, dirige-se à porta, espia pelo postigo e, como na noite anterior, não vê ninguém. Por via das dúvidas abre a porta e ao olhar para baixo depara-se com uma cesta de palha, daquelas usadas pelos padeiros ambulantes, e, dentro dela, enrolado em uma manta, havia um volume que se mexia. Tomado pela curiosidade desenrolou a manta e descobriu, entre estupefato e apavorado, tratar-se de um filhote de canguru.
Fernando sentiu que estava perdido, um canguruzinho ninguém merece, parece praga de sogra. Logo ele que nem sogra tem!
O pequeno marsupial olhava-o com cara de órfão esfaimado e Fernando, alucinado por animais, mesmo apavorado ante o inusitado, acolheu o bichinho disposto a saciar-lhe a fome.
Esquentou um copo de leite e deu-o às colheradas na boca. Após amamentá-lo enrolou o animal com a manta colocando-o a seguir de volta na cesta e saiu para o trabalho já atrasado.
Enquanto dirigia em meio ao trânsito caótico, indagava-se quem lhe fizera tamanha maldade e como resolveria tão grande problema. Uma coisa era certa, teria que se livrar do animal. Imagine um canguru adulto dentro do apartamento!
Não poderia justificar seu atraso com o fato ocorrido, ninguém acreditaria!
Durante o trabalho preocupou-se com o canguru. Como estaria ele, com fome? Pulando e quebrando tudo no apartamento? À medida que pensava imaginava cenas desastrosas como a da vizinha do 702 sendo atacada pelo saltitante bicho adulto. O suor molhava-lhe a testa como que delirasse de febre.
De repente soa estridente a sirene de uma viatura e Fernando acorda assustado mas, ao mesmo tempo aliviado pois tudo não passara de um terrível pesadelo amenizado apenas pela doce lembrança de Tereza, seu eterno amor com quem brigara há três cruéis longos meses.

Betofreire

Ainda brincando com o mouse...

Brincando com o mouse no paint


Wednesday, May 10, 2006

Mulher em azul

A mulher , como o céu, também é azul

Eufrásia e Demonildes

Eufrásia e Demonildes esperavam a abertura do sinal enquanto conversavam animadamente.
_ Eufrásia, não queira saber como estou ansiosa por conhecer o Bonifrates noivo da Dazinha. Dizem que é um gato e que a coitada só conseguiu fisgá-lo por causa da herança daquele seu tio de Portugal. Pelo visto a festa vai ser supimpa, regada a chopp, groselha e vão rolar muitos croquetes, barquetes, coxinhas de galinha e empadinhas de queijo. Também, tem que compensar a do batizado da Dodô que tenha dó, nem água teve, que horror!
_ Demonildes, cê me conhece bem e sabe que minha boca é um túmulo, mas, dizem que Dazinha já deu e que já está de três meses. O coitado está enrascado de vez. O Severino, pai dela, disse que o casório sai de qualquer modo, nem que seja na ponta da peixeira!
_ É isto aí, esse é dos meus, cabra macho, sô! Vociferou um homem grandalhão que estava ao lado de Eufrásia, aguardando a abertura do sinal.
Alto lá ô cara! Com que direito invade a nossa conversa privada? Exclamou Demonildes indignada com a intromissão do homem.
_ Peraí ô dona! Aqui não é privada, estamos na rua e as donas aí tão falando alto pra todo mundo ouvir! Também tenho o direito de palpitar, pô!
_Palpitar porra nenhuma! O distinto não tem o direito de falar mal de meus amigos!
Vamos embora Eufrásia antes que acerte a cabeça deste sujeito com meu guarda chuva.
As duas atravessam a rua e, ao chegarem do outro lado, pasmem, quase esbarram em Dazinha e sua mãe que saíam do shopping.
_Dazinha querida, eu e Demonildes estávamos falando de você. Da sua beleza, da sua graça e da sorte do seu noivo por encontrar jóia tão preciosa!

Betofreire

Friday, May 05, 2006

Fafá Lemos


Rafael Lemos Junior, grande violinista de formação clássica começou a tocar aos sete anos e aos nove apresentou-se, como solista, de um concerto de Vivaldi acompanhado pela Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal.
Fafá Lemos, como ficou conhecido, dedicou sua arte à MPB.
Talvez tenha sido o pirimeiro a atuar no popular com um instrumento tão clássico e nobre, provavelmente na sua genialidade, percebeu a nobreza e riqueza de nossa música. Integrou o Trio Surdina juntamente com Chiquinho do acordeom e Garoto (violão), foi respeitadíssimo na época (anos 50).
Este artista maior que emprestou seu talento e arte em prol do engrandecimento de nossos valores morreu esquecido.
Enquanto reverenciamos o trabalho do violoncelista Chinês Yo Yo Ma pelo seu Cd Obrigado Brazil,da Sony e admiramos o francês Krassic que com seu violino interpreta clássicos do chorinho esquecemo-nos do GENIAL FAFÀ LEMOS.
Perdoa-nos, caro Fafá. Obrigado, do fundo do coração, por tudo o que fizeste de divino, com seu violino, pela Música Popular Brasileira.
Infelizmente só possuo um Cd deste ARTISTA onde ele interpreta, juntamente com a não menos importante e exímia pianista, Carolina Cardoso de Menezes, jóias musicais como No rancho fundo, Pedacinhos do céu, Conversa de botequim e outras ternuras.
Como é emocionante ouvi-los!
Seria muito bom que a RCA relançasse em cds outras gravações que, certamente existem no período de 1951 a 1960 e que foram produzidas em 78 rpm.
Faço questão de agradecer, como brasileiro a homenagem a ele prestada pelo Krassic.

Melô do boa vida

Seu delegado dá um jeito nesse moço
Ele é carne de pescoço e quer me contrariar.
A minha nega quando desce lá do morro
Tem que pedir socorro pra do malandro se esquivar.
Sem preconceito ele canta qualquer uma

Do Leblon a Inhaúma ele bota pra quebrar.
“Mulher de amigo meu pra mim é bom”
É seu lema preferido ele é mesmo de lascar.
O vagabundo pede grana a todo mundo
Não trabalha nem procura um serviço pra ganhar.

Porém se um biscate ele arranja
Gasta tudo em cachaça
E bebe até esparramar.
O mequetrefe já morou em Ipanema
Na cobertura da morena que na praia conquistou.

Mercedes com chofer de luvas brancas
Levava e trazia o dito cujo pra folia
O vida mansa, cheio de mordomia, era chegado à boemia
Até que um dia se estrepou.
A moça que outrora conquistou foi por outro conquistada
E o que era festa acabou.
.

Felipe

Como poderia esquecer de você, filho amado?
Louro danado no cavaco inspirado,
com talento tocado.


Figura miúda esbelta e loura, bem humorada e sorridente, lembro-me sempre de sua infância.
Você cresceu, alcançou a adolescência, seus humores oscilam ao sabor das mutações hormonais do crescimento, mas o humor o sorriso continuam presentes na sua figura loira e linda.
Continue sempre alegre, bem humorado e feliz.
Amo você com amor sem tamanho, curto acompanhá-lo nas aulas de cavaquinho, aprecio muito sua música e gosto quando tocamos juntos.
Agradeço a Deus por sua vida entre nós e rogo para que Ele o cubra de bênçãos e proteja seu caminhar.
Um beijo grande,

Pai

18/02/2003

O mês de maio é dedicado as mães e para homenageá-las recorro ao que disse com dez anos a minha mãe com a simplicidade, objetividade e sinceridade que só as crianças têm.

"Mãe palavra singela
que nenhuma rima tem
Gosto muito dela
e ela de mim também"

Raimundo

Raimundo, nordestino filho de Severina, vive no Rio vida severa como operário de obra de severa vida.
Acorda cedo, pega o trem das quatro da madruga, sacode até a Central onde salta e pega o ônibus para Ipanema.
Carrega brita, cimento, areia, vira massa, assenta milheiros de tijolos, constrói casas, sonhos próprios, realidades alheias. Mora em barraco de caixote sob o viaduto. Nem cama tem, só esteira rota e surrada.
Veio do interior do nordeste em busca de vida melhor que a seca. Qual o que! Achou trabalho duro, grana pouca, muita luta, suor e labuta. Esperança de melhora? Nenhuma. Só trabalho.
Quer estudar, aprender a ler, fazer conta de somar, diminuir, multiplicar, dividir. Cadê tempo? Cadê grana?
O dente dói, mas dentista, nem pensar. O dente cai, a dor passa, fica o só o vazio entre os poucos que ainda lhe restam.
Enquanto vira a massa a cabeça roda, viaja, pensamentos vão e vêm como relâmpagos.
Ah! Ali vai Maria José, empregada de balcão do bar onde toma sua pinga para espantar tristeza. È tão jeitosa, tão cheirosa, um mulherão! Raimundo, pobre que nem Jô, não tem coragem de chegar perto, falar de desejo, de amor. Fazer o que?
Juntar sua vida com a dela, como? Juntar pobrezas, somar tristezas?
Enquanto Raimundo divaga, cá estou bebendo uma gelada. “E o barquinho vem, a tardinha cai...”, diz a canção na voz de Leila Pinheiro, graças ao Armando, dono do bar e de muito bom gosto musical. “Dia de sol, festa de luz...” é muito lindo.
Diferente da história de Raimundo que não sei como acabará.
Repentinamente sinto-me poderoso, onipotente, capaz de mudar o destino de Raimundo.
Terminado o horário de serviço Raimundo toma seu banho, se arruma, se perfuma e vai para o bar tomar sua pinga mas, ao encontrar-se com a luz do sorriso de Maria José, é tomado por uma coragem ousada e firme. Respira fundo, estufa o peito e diz:
--- Maria me dá sua alegria, me dá a mão e vamos por aí ver o sol, o mar. Vamos amar, nossas vidas juntar, curtir um forró! Ah! Maria, você é linda!
“Pra que chorar se existe o amor...”, diz a voz linda de Leila Pinheiro no CD do Armando.
A ceveja acabou. Está na hora de apanhar meu filho na aula de cavaco.

16/12/2002

Thursday, May 04, 2006

São seis horas...

São seis horas da tarde, o sol, tal qual Midas, tinge de dourado toda a paisagem deste maravilhoso fim de tarde carioca. Pessoas aguardam o verde do sinal que as permitirá atravessar a rua com tranqüilidade. Ali esta o menino trazendo às costas a pesada mochila e no rosto o semblante cansado de mais um dia de calor e da labuta escolar imaginando, quem sabe, como será gratificante chegar logo em casa e curtir sua turma no play.
Play é o termo inglês utilizado para denominar o espaço nos condomínios contemporâneos destinado ao lazer dos moradores. É nele que crianças, jovens e adultos deveriam conviver socialmente em desejável harmonia, mas, infelizmente, não é o que sempre ocorre, pois, crianças e jovens são incompreendidos em sua ânsia de viver e curtir.
Um pouco atrás uma morena maravilhosa dentro de justo collant a realçar-lhe a mais perfeita forma, fala animadamente no celular, provavelmente com o namorado para combinar o programa para esta noite de sexta feira. O cavalheiro a seu lado não desvia o olhar guloso do modelo de beleza feminina carioca, certamente desejando curtir com ela momentos de rara beleza e prazer enquanto a beata senhora, a seu lado, observa sua atitude com ares de veemente reprovação. Creio que a reprovação origina-se mais no fato de que o tempo e a ausência dos cuidados com seu corpo fizeram-na sentir-se em desvantagem, não por desleixo, mas talvez por que, a sua geração não se preocupava tanto com a manutenção da forma.
Alheio às atitudes e intenções da humanidade, o astro rei derrama-se em tons amarelos, róseos e dourados sobre o universo carioca, amante da beleza dos banhos de mar e da morena que, sempre com muita graça, desfila na passarela da rua. Ilumina o casal que troca caloroso beijo na praça Saens Peña, tinge de ouro os dentes do menino malabarista de bolas de tênis no sinal da General Polidoro. Menino que não freqüenta a escola, que não tem quem o oriente nem o alimente, esquecido na vida pela sociedade, futuro incerto, certamente trilhará caminhos indesejáveis para nossos filhos. Malabarista de vida torta e, na maioria curta.
O mesmo astro se esconde ao presenciar o impacto da bala do tráfico assassino no rosto da menina inocente no pátio da faculdade. A atmosfera do Rio se envolve em trevas de profundo luto, de medo intenso, de total insegurança e chora a morte de tanta gente na guerra urbana do tráfico. É noite de luto e pesar na maravilhosa Rio de Janeiro.
É tudo luto na alma carioca que teme pela segurança de seus filhos tão amados, criados com tanto zelo. Como protegê-los, livrá-los do mal, do homem mau que porta armas que matam, vendem drogas que aniquilam?
A quem recorrer, o que fazer?
Ó Astro Rei filho de Deus, iluminai-nos, mostrai o caminho da proteção, instruí os maus a se transformar e a melhor entender a vida.
Amém.

Pensar

Uma mesa, cerveja no copo, eu e ao meu redor outras mesas ocupadas por casais ou grupos bebemorando a vida ou quem sabe o fim de mais uma semana de trabalho.
O pensamento voa e recorda os filhos pequenos ainda; vocês Pedro e Felipe, frutos de muito amor. Cresceram, Pedro já quase na faculdade, Felipe iniciando o curso médio, como foi rápido.
Sinto saudade de suas pequenas figuras, mas amo seu caminhar em direção à maturidade.
Ambos com pendores artísticos fortes, Felipe escolheu o cavaquinho do pagode e do chorinho, de carona lá vou eu tomar aulas de pandeiro para quem sabe ainda “chorarmos juntos”. É maravilhoso!
Pedro passa por todos os intrumentos, ama a musica, já estudou teclado, brinca com o violão, cavaco, pandeiro e tam-tam, mas não se fixou em nenhum. É uma pena tantos talentos adormecidos, sufocados.
Independentemente dos gostos e temperamento de cada um o amor por vocês é enorme, sem tamanho. Torço por vocês, oro para que cresçam, tornem-se homens justos.
Peço a Deus que os ilumine para que tenham sucesso em suas escolhas de vida.
Sempre estarei junto a vocês, amando-os incondicionalmente, fazendo o possível para ajudá-los, quando necessário.
Sou pai, sou arco e vocês as flechas. Capricho na pontaria para que acertem seus alvos.
Que eu tenha saúde para ver seus filhos, meus netos e continuação de nós.

Um beijão no coração,

Pai


13/09/2002

O encontro

Recordação

Foi numa tarde qualquer, de um dia qualquer, em algum mês do ano de 1980 que saímos para almoçar. Sentamo-nos à mesa de um botequim, desses que fazem comidinhas à caseira, e pedimos cerveja. Entre um copo e outro, ou no meio de algum, nos encontramos. Não precisei falar e reconhecestes em mim teu irmão. A emoção do encontro marejou-nos os olhos, sufocou nossas falas. Vistes em mim, amigo-irmão, teu semelhante em querer amores e sentimentos à semelhança dos teus. Vistes em mim o homem a quem, como tu, é dado sentir com intensidade vivida.
Vi em ti mais que um amigo, um irmão daqueles que se colhe dentre muitos, pois é raro.
Soubestes ouvir-me e respeitar-me as emoções quase não ditas, mas transpiradas. Soubestes falar sem interferir em meu pensar e sentir.
Sinto em ti a força na fraqueza e a fraqueza na força, próprio dos homens – gente.
Tens, amigo, a sensibilidade que me toca e comove. Tens o dom da palavra vivida. És capaz de dizer o que sentes e sentir o que dizes. És capaz de parar e perceber o por do sol, a beleza da flor, o sorriso da criança, a música do mar que desliza.
É por que sentes, por que falas, por que ouves, que sou teu amigo, aquele pra toda hora.


14/06/1980

Espaço onde podem ser gravadas nossas impressões e experiências