São seis horas...
São seis horas da tarde, o sol, tal qual Midas, tinge de dourado toda a paisagem deste maravilhoso fim de tarde carioca. Pessoas aguardam o verde do sinal que as permitirá atravessar a rua com tranqüilidade. Ali esta o menino trazendo às costas a pesada mochila e no rosto o semblante cansado de mais um dia de calor e da labuta escolar imaginando, quem sabe, como será gratificante chegar logo em casa e curtir sua turma no play.
Play é o termo inglês utilizado para denominar o espaço nos condomínios contemporâneos destinado ao lazer dos moradores. É nele que crianças, jovens e adultos deveriam conviver socialmente em desejável harmonia, mas, infelizmente, não é o que sempre ocorre, pois, crianças e jovens são incompreendidos em sua ânsia de viver e curtir.
Um pouco atrás uma morena maravilhosa dentro de justo collant a realçar-lhe a mais perfeita forma, fala animadamente no celular, provavelmente com o namorado para combinar o programa para esta noite de sexta feira. O cavalheiro a seu lado não desvia o olhar guloso do modelo de beleza feminina carioca, certamente desejando curtir com ela momentos de rara beleza e prazer enquanto a beata senhora, a seu lado, observa sua atitude com ares de veemente reprovação. Creio que a reprovação origina-se mais no fato de que o tempo e a ausência dos cuidados com seu corpo fizeram-na sentir-se em desvantagem, não por desleixo, mas talvez por que, a sua geração não se preocupava tanto com a manutenção da forma.
Alheio às atitudes e intenções da humanidade, o astro rei derrama-se em tons amarelos, róseos e dourados sobre o universo carioca, amante da beleza dos banhos de mar e da morena que, sempre com muita graça, desfila na passarela da rua. Ilumina o casal que troca caloroso beijo na praça Saens Peña, tinge de ouro os dentes do menino malabarista de bolas de tênis no sinal da General Polidoro. Menino que não freqüenta a escola, que não tem quem o oriente nem o alimente, esquecido na vida pela sociedade, futuro incerto, certamente trilhará caminhos indesejáveis para nossos filhos. Malabarista de vida torta e, na maioria curta.
O mesmo astro se esconde ao presenciar o impacto da bala do tráfico assassino no rosto da menina inocente no pátio da faculdade. A atmosfera do Rio se envolve em trevas de profundo luto, de medo intenso, de total insegurança e chora a morte de tanta gente na guerra urbana do tráfico. É noite de luto e pesar na maravilhosa Rio de Janeiro.
É tudo luto na alma carioca que teme pela segurança de seus filhos tão amados, criados com tanto zelo. Como protegê-los, livrá-los do mal, do homem mau que porta armas que matam, vendem drogas que aniquilam?
A quem recorrer, o que fazer?
Ó Astro Rei filho de Deus, iluminai-nos, mostrai o caminho da proteção, instruí os maus a se transformar e a melhor entender a vida.
Amém.
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