Saudades idosas...

Sentado no banco da praça, como bom malandro, à sombra da amendoeira, observo o céu intensamente azul recortado pela imponente Pedra da Gávea, ladeada pelos Dois Irmãos e, mais à frente, espelhando-os, a bela Rodrigo de Freitas circundada, em suas margens, por australianas casuarinas. À minha frente, no meio da praça, brincam, entre gostosos risos e expressões de despreocupada alegria, crianças como que a me ensinar que a vida é bela e, como tal, deve ser intensamente vivida, despreocupadamente e sem estresse.
Do alto (ou de baixo?) das minhas seis décadas admiro-as, mas, de repente, o pensamento alça vôo, como aquela gaivota que paira ao sabor do vento e viaja com asas do devaneio para o não sei onde do tempo.
Vejo-me, com filhos ainda pequenos, acompanhando-os e misturando-me aos folguedos pelas praças e praias da vida. Bate uma saudade imensa, nunca sentida, nó na garganta, vontade de chorar. É difícil segurar a emoção.
Aquelas lindas figurinhas cabiam-me no colo e abraçávamo-nos com eterno e terno carinho. Como era bom sabê-los tão perto!
Cresceram muito rápido, parece-me, e a sensação é de que não curti o suficiente a sua criancice e meninice. Agora, na adolescência de um e juventude do outro me resta o consolo da saudade do grande abraço, às vezes apressado e do beijo não dado, pois, em nossa sociedade machista pais de filhos já crescidos, ao menos por um período, não se podem dar ao prazer de afetos e ternuras.
Chega-me a sensação de emoção constante e que qualquer ato bonito, música, sorriso de criança ou figura idosa ( tão ou mais que eu) me tocam fundo a alma.
Ouvir Cartola, Vinícius, Paulinho Nogueira mexem muito com a emoção. Talvez não fosse exagero dizer como Zeca Balero que “ando tão à flor da pele que me comove até beijo de novela”.
Ver a Lagoa, os Dois Irmãos, a Pedra da Gávea e crianças ao por do sol emociona muito.
Dá uma grande e idosa saudade.


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