Wednesday, June 07, 2006

O ovo


Alvo e oval ovo, depósito de vida, prestes a espocar, fazer nascer para a vida.
È como se minha cabeça fosse um grande e oval ovo guardando idéias que saltam irrequietas dentro da casca. Diferentemente do real ovo que basta ser chocado para quebrar-se em vida, minha cabeça não encontra como explodir as idéias nela concentradas.
Do ovo sabe-se o que vem enquanto que da cuca nada sei. Sei apenas que não sei ou talvez nem queira saber.
Não sei por que ou para que escrevo, necessidade talvez de registrar desconexões do pensamento que voa distante, além do mar, além do tempo, sem quando nem onde, sem objetivo.
Voando e viajando vejo, lá em baixo, um lindo botão de rosa amarela, úmido de minúsculas gotas, talvez lágrimas de saudade. Imagino que gostaria de dá-lo a alguém muito especial e distante, mas não tão distante face a onipresença do pensamento.
Da simples vontade, passando a ação, vejo-me diante dela. Admiro-lhe o rosto, os lindos olhos e cabelos macios.
Delicia-me seu sorriso de dentes alvos emoldurados por lábios que me convidam a beijá-la, sugar-lhe o mel. Em lento e apaixonado gesto entrego-lhe o botão amarelo, úmido de amor.
A reação vem impregnada de carinho e de um largo e longo e terno abraço que me agasalha, conforta, aquece.
De algum mar sopra a brisa do por do sol; de súbito estamos deitados sobre a areia morna, sob o poente sol, corpos e espíritos entrelaçados.
Põe-se o sol, põe-se o pensamento, desligo o sonho e guardo-o no interior do grande alvo e oval ovo.



Betofreire
23/7/80

1 Comments:

At 5:24 AM, Blogger beto said...

É muito bom receber visita sua tão amiga, volte sempre que quizer.
Beijo,
Beto

 

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