Doce Nhanhâ
Querida vovó, tua lembrança, trago-a no peito com doce saudade e a certeza de que fostes no exato final de tua missão.
Fostes a operária do amor dando-te, por inteiro, a marido, filhos, netos e, com ternura, cativastes a todos. Merecias um final mais suave, menos doloroso, menos dependente, mas, talvez ele tenha sido a nossa oportunidade de darmo-nos a ti, numa parcela ínfima se comparada a tua, com amor, às vezes impaciente, reconheço, cuidando para suavizar-te a dor na partida.
Tua ida doeu-me muito, mas, confesso, doeu-me menos do que vê-la depender inerte e apática daqueles a quem tanto se deu, tão ativa e intensamente.
Agradeço a oportunidade que tive para cuidar-te e amparar-te nos dias derradeiros na tentativa de amenizar tua caminhada final.
Chego a duvidar da existência de um Deus que permitiu que a minha formidável velhinha tivesse de sofrer tanto se, durante toda a vida, amou e resignou-se nas perdas dos entes mais queridos. Fostes para todos o maravilhoso exemplo de amor vivo.
O carinho com que falavas do teu companheiro me comovia e me comoverá sempre. Foi um amor lindo!
Teu parceiro que foi, a um só tempo, pai e irmão, além de marido, creio que te receberá com muito amor.
Vovó, perdoa a impaciência deste teu neto que, muitas vezes, não compreendeu tuas angústias e tua luta final.
Quando puderes, lembra-te deste teu neto e ajuda-o a melhor caminhar na vida.
Abençoa, mais uma vez aquele que tanto te ama.
Betofreire
28/03/1982


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